sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

fogo morto

Querer o infinito pode ser pretensão,
Mas ignorá-lo é tolice
Há sempre uma incorporação
Cada objeto está sobrecarregado
por uma energia que nos seduz
Um velho xamã percebe isso
Pode ser o fim ou o infinito

Um louco volta pro hospício
Quando vê fumaça onde não há fogo
Quando sorri diante a um morto
Quanto retorna e desconhece tudo
Menos seu próprio corpo

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À distância

o seu silêncio me consome mais que a distância que nos separa
um trem vale esperar
já um telefonema...

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O herói

Detesto elogio de vagar. Não sou nada nem mais um. O xamanismo é o meu prato preferido, assim se tornam servos os seus propagadores, quem brinca com fogo, amanhecem mijados. Porque aqueles que te brindavam se tornam seus inimigos. Porque se pensam inferiores, porque te pensa deus, mas estávamos mortos?

o pior

O pior momento da lembrança é a realidade presente
Que se desfaz e se lembra
Que é real
É possível
Sofrer de novo
O que de longe
Era só um ruído de telefone

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Impasse da letra e do nome

É impressionante calar-se à meia-noite. É desinteressante sofrer se não se sofre. As penumbras sorriem ao celibato. As pessoas não lêem nada além de restos. Iggy Pop é o senhor do rock, Perry Farrell se diz adicto. Quem não consome tabaco, bebe remédios ou entorna chá. O sucesso é o fracasso adiado. A poesia é um fardo demais pesado de se carregar. Muitos remedam foda-se. Ser racional é a imbecilidade daqueles que não tem intuição ou não amam, ou nunca amaram realmente. A putaria é um sacrifício gostoso. A escrotidão não é para qualquer um. Excluiu-se mais um, exclui-se sempre, mais um e mais um. Dizer é um exercício interessante. Para todos os efeitos, o resto é inconsciente, ele é produzido. Sonhar é para fracos (quem não realiza) e pesadelos então são para culpados. Sonha quem dorme demais, ou erra por dormir errado. O erro existe, senão não haveria reprovados. O que é um escrutínio? Por isso errar se faz justo, para somente aqueles a quem se aprovam. Há prosa enquanto rosnam essas palavras e não será lida, desde que fora escrita.
- Slavoj é quem mesmo?

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quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

sem jeito

Ela faz de tudo para que eu a esqueça, mas como

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era como se as linhas se cruzassem
as juras se derretessem e o tempo
estranho e vil
não deixasse sequer um segundo nesse tilintar de tambores

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espero gastar todas as minhas esperanças,
todas as minhas expectativas descem nessa ampulheta
que nunca chega que nunca chega

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Diário de lá


Eu posso estar trancado aqui
Mas sozinho é que não estou
São tantos gritos espalhados
Tantos raios de sol pelas janelas
E a paranóia irradia seus círculos

Toda hora certa há o que comer
Passou-se das seis há de se beber

São tantos que se acham Deus
São eles
Pequenos mortais
Próximos do fim

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era como se as linhas se cruzassem
as juras se derretessem e o tempo
estranho e vil
não deixasse sequer um segundo nesse tilintar de tambores

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espero gastar todas as minhas esperanças,
todas as minhas expectativas dessem nessa ampulheta
que nunca chega que nunca chega

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nota



E saber que tudo pode ruir
É não saber de nada,
Pois ainda flui areia e desespero
Por excesso de cuidado
Zelo

Há a renúncia

Oito vezes oito achei você
Uma senha no acaso
Um lançar de dados
Um puro caos
Um achado

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juro



Querer que tudo fosse embora
Sonhar com aquela cena estranha
Se culpar,
Mas por não ter feito nada
Nem ligar o telefone
Nem gritar ao megafone
Ser tratante, pedinte, pagante.
Esperar a poeira assentar
E ficar absorto no mesmo lugar

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aqui


uma linha do novelo
ir pra lá, pra cá
ficar perdido numa rebelião

repetir e dizer que sim, que não

observar o joelho se arrastando no chão
numa descida com uma rolimã

puxar uma linha do retrós
e ver o papagaio
pra lá e pra cá
molhando-se em tempos de urticária

não importa quem passou por ali
importa que eu estou aqui

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segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Do presente

Ela não vai gostar. Ela não vai gostar e mesmo se gostar... Ela não vai gostar.

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feminism

- Vem cá em casa hoje! (no telefone)
- ‘Tá bom... mas vai rolar só Cardigans (nenhuma declaração de amor) e é pra ver filme, documentário!!!
- (...)
- Ah! Chega de som barulhento, eu nem gosto de música assim e... Nem vai chorar ora, boys don’t cry...
- O que você vai querer pro almoço? Filé com fritas?
[ela disse ele disse ela disse ele disse ela disse ele disse – vice versa]


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Gata

Não faça assim
Se eu escolho cada som
Pra não te aborrecer
Se não uso aquela calça
Que você mesma pediu para rasgar

Faça assim mesmo
Faça do jeito que quiser
Se eu escolho cada ruído bom

Sopro no seu ouvido só pra ver sua reação
Uma ligação dupla, carboxílica.
Num átomo onde somos os nêutrons, os prótons e os elétrons.

Nós
Dois corpos.

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Femme

Vai dizer:
Troca este Cramps...

Enquanto houver palavra no dicionário pra exprimir

Não há, entretanto uma sequer.

Está trancado ainda dentro do bus
não era pra atender ao telefone, mas atende.
Pra quem pensou em atraso,
chegou antes,
deixando em sua porta
um vaso de flores,
pela única vez até hoje.
Tocou a campainha
e se misturou
à correnteza de formigas,
que se alastrou dali,
levando o passado
como aquele presente,
como tal foi um sargeant peppers.


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Ela

Dito e feito
Como cobrar o que não se paga
Apagar e voltar

Entre nós passam fluxos
De todos os tons
De todas as cromatinas
De todos os odores e sabores

Falar não se escreve
Anota-se a lei
Do dever cumprido
Do sonho muitas vezes o preferido

Dito isto
Aparece ela
Com as palmas nas cochas
Sorrindo...


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Mulher

Se fosse apenas ontem, mas
já se passou meia década de paixão e de dor
por cada dia passado a limpo
e de todos os segundos esquecidos

Não se lamenta tanta conquista
Tantos olhares bem quistos
Tantos tateamentos no escuro
Cada tapa num mosquito

Se os lençóis não nos cobrem
Se o calor, os insetos, o verão lembra
o minuto atrás – o desejo por esta mulher.

Somos tantos às vezes
nosso nome não é um enxame
uma guerrilha – uma multidão.

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Moça

Ei moça, eu quero saber:
a cor dos seus olhos
o sabor de sua língua
Como se não soubesse

Desvendar cada seda tecida
Apalpar cada poro seu
Sonhar com o veludo da sua pele

Corpo tênue e elegante
cabelo ao vento
Como se existisse

Uma sombra nas pálpebras
Uma bala na boca
Uma luz, uma saliva e um sim

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menina

Quando você chegou à minha vida
Eu percebi
Que era a mais linda
Com um sorriso doce
De uma menina

Gosta de conversar
E de um cochilo
Antes do filme
Chegar ao fim

Será de cinema
E de uma pipoca
O seu presente
Preferido?

Sempre ao meu lado
Há de estar
Esta menina
Minha menina


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domingo, 16 de dezembro de 2007


Não é fácil me fazer pensar que ainda se tem tempo
podia fazer valer todos os astros nos céus

sem saber porque ainda respirava...
cantava todos os dias
a mesma canção descalça

um orgasmo com tanta pressa e mais um gole de cachaça.


partir é sempre partir
sem destino certo,
raspando a poeira do assoalho
que agarra nas solas deste sapato

desde que me perdi da última vez e me senti ciumento

pois

nem menos eu na multidão
resolveria a sorte

lâmina forte
mais uma vez passou entre transeuntes e televisores
entre cenas e senadores ejaculados

Somos assim dentro de caixas,
perdidos dentro de caixas:
lixo dos outros e
cusparadas.

senti uma vontade suspensa de ir


manter uma relação com o fora,
encerrar o fora,
interiorizar o que excede.
© Copyright, JuNIn

Até a lua borrar (um)


Um suco e um bolo
Até a lua borrar
Enquanto seus lábios feriam
A porta se abriu e se fechou,
Uma cortina atrás da outra
[Obrigado] por lhe permitir,
por
lhe
deixar
dizer
uma
única vez
e
se
esquecer
do
que
disser?© Copyright, Junin

Até a lua borrar - um eclipse

O olho desesperado e um sorriso no rosto, os dedos tocam suavemente qualquer nota numa canção do tamborete ao tamborim: Uma corrida do morro e, o trem se estraçalhou, ela repete o que disse o que disse ele se esquece. A fome e a sede desapareceram, os seus lábios feriram e os seus órgãos se esfregaram, até a lua borrar o primeiro eclipse do século.© Copyright, Junin
Mas menina sonha o homem que quer e seja louco quem não o for.Toca o dedo suavemente na pele do tambor.A menina sonha o homem que for e seja louco quem não a quer.© Copyright, Junin

ssSSss

Ssss.. como se não bastasse ouvir mais um ruído pois então como se ouvissem menos que um sinal sem som mas foi eu às vezes tantos copos cheio de um suspiro e gelo, antes de pensar se ainda era tempo como se um assobio descompromissado fizesse ruir a paisagem na tela a gota no copo o susto em uma roda onde eu não sabia onde me amarrar se fossem os cadarços se fossem os chicletes se todos partissem e se o chão se abrissee de novo,repensar o corpo,retesar a imagem, mastigar a noite que esqueci: ela insiste em colidir com os meus olhos a luz de um horizonte e o estilhaço de um caldo pútrido em meu estômago.© Copyright, Junin

Às vezes basta apenas sorrir


Meus olhos procuram e encontram o quê? Se não soubesse onde você estava ou para que tanta pressa...Quantas são as horas, hein? Nem pensar. Minha casa é agora o chão da rua. O telefone vai tocar e o inverno sopra este frio. Encontro insanidade e páginas em branco. Correr podia me cansar. Ora, três da manhã, porque nenhum telefonema chamou. Minha casa se transformou nesse chão frio que o inverno soprou – não era para você estar aqui)
Acaso a encontre não direi nenhuma palavra a mais: imprimir um sorriso. É... sorrir basta. © Copyright, JuNIn
Do eletrochoque pouca coisa se queimou... Talvez deseje mais a vida cruel por qual atravessou mais sutil que um ator, tornando o teatro fluxo de flechas contra-correnteza, cuja fuga pouco nos diz, quando aparamos pouca coisa da história,sobram cinzas. para quê esconder a esquize? para que tanta eletricidade? se no meu bardo a luz existe pouco tempo depois que acordo. Berrar para quem escute, pular num buraco negro devorador, dizer o que pra quem? Chamas não me acordam, o fogo consome a última fagulha do meu suor... Talvez um dia possa dizer eu, desde que me descentrei e cantei uma ovação às sombras do meu corpo em frangalhos © Copyright, JuNIn

um susto

um homem sempre vê seus sonhos se desmoronarem como cartas de baralho. é a vida a se suplicar, desintegrando em uma alternativa. sonhos não existem mais (se os vimos desmoronarem), assim o mundo se dissolve em lava incandescente. teatro de sombras. exorcismos do desejo. relíquias insulares e danças de cortejo. Protestos: Vem-se de lá - Andaluzia, mas cansa esquartejar corpos. esse negócio de torturar carne dá ânsia de vômito. mastigar psique igual chiclete. eles fingem que não são zumbis. vivem de pernas bambas versuchepersonem/guinea-pigs/saves/flamen diale/ por que não lambem mais panos de chão, não sobrou sequer uma, restaram todas, sacras cobaias de um só colorido cianótico. seu suave ascetismo serve para escorrer pelos esgotos. experimentaram os fundos do oceano e as mais altas pressões atmosféricas e as dejeções mais turvas, gozaram cada um dos nossos vírus, ampliaram nossa fauna. © Copyright, JuNIn

cama e estrado dois

Como alcançar os lençóis da cama com os pés?Sete milhões de dedos sopravam.Sair desse mundo pelo estrado.O terrorismo de fato era um altruísmo deselegante em tempos atrozes, devendo aos atores de uma cidade cenográfica fantasma:Para santificar mais um papaPara destronar mais um déspotaPara soçobrar mais um vintémPara descarregar mais um grãoPara criar mais um mapa...Para embebedar mais uma gota de sangue foi preciso amordaçar aquela saliva em suas próprias glândulas Deixando de marcar essas páginasRabiscadas Por halos de um anjo morto.© Copyright, JuNIn

cama e estrado


Sonhava com mais nada Se estava acordado parecia mentira Quem quer saber da irradiação das linhas de uma teia que nos embaraçam os pés Quem quer se sentar no centro da aldeia? Com seu cetro na mão Com seus pés longe dos tapetes que passam por debaixo de seu trono Quem é o rei é o rei? Um juiz finalizou a partida Você se importa se um apito for dissonante Sinto o vapor sujo da lei O ronco surdo do motor é um ventilador ou uma hélice sem direção Mas estão um por um de nós nas ruas Que desconhecemos.Minha mão cavava o solo E queria interpretar um livro poeirento.Descobriram uma terra debaixo dos meus pés e estilhaçavam odores de pavor do século dezenove Rodopiava uma garota azul e rosa na tela cuspia luz o tubo catódico cuspia plasma amassado: um girassol era um cata-vento catava luz do sol e sonhava que a haste móbile (de tanto sugar do chão e mirar o céu) sempre se lembrava que não era preciso pensar Nem separar grão de areia e silte.© Copyright, JuNIn

primeira fase

Se cada verso desses traduzem uma inquietude, hoje só me sobram sombras deles. Pois a ternura a quem se endereçava cada letra, fonema, sintagma...me correspondem com paixão e sorriso inomináveis.© Copyright, JuNIn